São Paulo rumo ao 1o Congresso da ANEL
Este ano começou com uma série de mobilizações em todo estado. Particularmente na capital, mais de uma dezena de manifestações sacudiram as ruas da cidade contra o aumento da tarifa dos transportes públicos. Também questionando as empresas de transporte, estudantes se levantaram em Campinas, Santos, Marília e Santo André. O semestre continuou com várias outras mobilizações. A greve do curso de Obstetrícia na USP questionou o fechamento do curso e o Plano Melfi, que visa remodelar toda a estrutura acadêmica da Universidade de São Paulo para melhor aliar a universidade ao mercado de trabalho. A luta das trabalhadoras terceirizadas da USP, que espalharam lixo pela FFLCH, recusando-se a trabalhar sem serem remuneradas, mostrou o lado mais obscuro dessa “ilha de excelência”. Também muitos estudantes se colocaram em luta, não só no Estado de São Paulo mas em todo o Brasil, contra a aprovação do novo Código Florestal, que assina o atestado de óbito do meio ambiente brasileiro. Na Unesp Botocatu centenas de estudantes paralisaram suas atividades para reivindicar um novo bandeijão, mas sem trabalho terceirizado - “uma vitória aos estudantes não pode ser uma derrota para os trabalhadores”, diziam eles, reconhecendo o grave problema que significa o regime de trabalho sob as empresas terceirizadas. Também neste momento uma grande greve sacode as Escolas Técnicas Estaduais, onde estudantes e professores sofrem diariamente com a precarização imposta pelo governo estadual.
Essas e muitas outras mobilizações demonstram que a juventude brasileira não está calada, mas quer discutir seu projeto de educação, de transporte, de cultura. A juventude não está tranquila com o crescimento momentâneo do país, pois sabe que os problemas estruturais continuam e que a educação brasileira atira os jovens para um mercado de trabalho que, quando os oferece emprego, este se dá sob as piores condições, baixos salários, longas jornadas de trabalho. Nada nas políticas governamentais hoje parece apontar para uma nova realidade.
Os anos de 2010 e 2011 serão anos caros e simbólicos para a juventude brasileira. Em 2010 encerraram-se os dez anos de vigência do primeiro Plano Nacional de Educação (2001). O plano teve 2/3 de suas metas fracassadas. O principal motivo disso: a falta de financiamento, já que Fernando Henrique Cardoso vetou os 7% do PIB para educação. Lula e Dilma mantiveram o veto. Já 2011 é o ano em que um novo Plano Nacional de Educação será aprovado. O novo plano mais parece uma cópia enxuta do antigo, mas agora privilegiando os ataques à educação e tirando as metas mais ousadas, como ampliar para 30% dos jovens o acesso à universidade ou assegurar o aumento do PIB para a educação.
No ano de 2011 também acontecerão dois Congressos. O primeiro Congresso será o da maior entidade estudantil brasileira, a mais antiga, a mais conhecida. E infelizmente também a que mais auxiliou o governo federal a aprofundar o sucateamento da educação brasileira. O Congresso da União Nacional dos Estudantes se reunirá em julho com a presença de diversos ministros, deputados e milhares de estudantes que aplaudirão de pé os “grandes feitos” dos últimos 8 anos de um governo que privilegiou e financiou empresários e poderosíssimas redes internacionais de educação em detrimento do ensino público.
O segundo Congresso será o congresso da Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre. Não queremos aqui traçar uma linha dizendo que na ANEL estão todos os estudantes que lutam por melhorias na educação e na UNE estão os governistas. Sabemos que há muitos ativistas sinceros e importantes que ainda participam da UNE. Não só os ativistas que tentam disputar a entidade para que volte a lutar pelas reivindicações do estudantes, mas também aqueles milhares de estudantes que acreditam que a UNE, sendo boa ou má, é a única coisa que existe hoje e que qualquer movimento estudantil deve passar por ali. Estes ativistas devem entender que o lugar deles não é o Congresso da UNE, mas o da ANEL.
O Congresso da ANEL, que se reunirá no feriado de Corpus Christi no Rio de Janeiro, será, sem dúvida, o melhor espaço do movimento estudantil brasileiro, onde estudantes de todo país se reunirão para discutir que uma outra educação neste país é possível. Se reunirão também para discutir que outro país é possível, onde os artistas não tenham que vender sua criatividade às grandes empresas em troca de financiamento, onde milhares de trabalhadores e estudantes não tenham que pagar para se locomover em péssimos meios de transporte, onde milhares de estudantes não tenham que abandonar a universidade para conseguirem ajudar suas famílias.
Nós, da ANEL São Paulo, confirmamos nossa presença no Congresso! Todos os estudantes e ativistas que constróem a ANEL no Estado nesse momento estão se empenhando em mandar a maior delegação de cada universidade e escola para debater um novo projeto para nossa educação e nosso país. No que depender de nós, o movimento estudantil estará cada vez mais tomando as praças e ruas do Brasil.
Otávio Calegari, estudante da Unicamp e membro da Executiva Estadual da ANEL-SP.