Por
Pedro Camargo da Executiva ANEL SP e estudante de Ciências Sociais
da UNIFESP
A
greve dos servidores, que envolveu a maior parte do funcionalismo
brasileiro por mais de três meses, continua tendo reflexos
importantes nas Universidades Federais. Foi uma paralização
histórica, que questionou as prioridades do Governo, bem como o
papel exercido pelas velhas entidades. CUT e UNE, que deveriam estar a
serviço dos trabalhadores e estudantes, há muito abandonaram as
lutas. O Governo respondeu com truculência, inicialmente se negando
a negociar, mas a força do Movimento lhe impôs uma derrota política
importante.
Atendendo
ao chamado da ANEL, estudantes do Brasil inteiro se organizaram em
torno de um Comando Nacional de Greve, que ficou instalado em
Brasília por mais dois meses, indo ao Palácio do Planalto, ao
Ministério da Educação (MEC) e ao Ministério do Planejamento
Orçamento e Gestão (MPOG) quase todos os dias, lado a lado com
trabalhadores e trabalhadoras dos mais diversos setores. Juntos, exigimos mudanças na política econômica do Governo, que não está a
serviço da maior parte da população, mas sim de banqueiros e
especuladores.
A
Universidade Federal de São Paulo foi parte importante desse
processo, tanto pela condição emblemática de seus campi, entre os
mais precarizados do Brasil, quanto pela força de sua greve, que
paralizou todos os cursos, tendo forte adesão nas três categorias.
A gritante falta de salas de aula, laboratórios, bibliotecas,
restaurantes, e até de bolsas e moradias acabou sendo noticiada em
boa parte dos noticiários e jornais de grande circulação. O Campus de
Humanidades, localizado na periferia da cidade de Guarulhos, chegou a
ficar mais de 5 meses paralizado em protesto. Ainda assim, reitoria,
tal qual o governo, também se negou inicialmente a negociar e usou
da polícia para criminalizar o Movimento.
Tanto
a nível nacional, quanto a nível local, os estudantes grevistas
tiveram importantes vitórias, como um reajuste de R$170 milhões no
PNAES (Plano Nacional de Assistência Estudantil) e aumento do piso
das bolsas para R$400 reais. Nos vários campi da UNIFESP foram
conseguidas melhorias no transporte, restaurantes, e avanços
importantes nas questões das bolsas e moradias. Ainda assim, alguns
dos problemas mais graves da Universidade continuam.
No
último dia 17 de outubro aconteceu a consulta à comunidade
acadêmica para definir os rumos da Reitoria. Pela primeira vez em
muitas eleições houve mais de uma candidatura, o que expressa a
profunda crise institucional que a Universidade enfrenta. O
resultado das urnas expressou de forma categórica o desejo por uma
ruptura com o mesmo setor retrógrado que controla a Universidade há
décadas. E o voto dos Estudantes foi decisivo para que esse
resultado se concretiza-se: quase 10% de vantagem sobre o segundo
colocado.
A
candidatura vencedora à reitoria da UNIFESP surgiu como
um movimento de estudantes, técnicos e professores, e se fortaleceu
no
bojo da greve. Seu programa expressa muitas das reivindicações
pendentes das categorias grevistas, entre elas se encontram as
propostas de investir prioritariamente na construção de moradias,
restaurantes e creches, implementação real do sistema de cotas
sociais e raciais, bem como a construção de um Congresso Paritário. Tal Congresso possibilitará dar início a uma Estatuinte, ou seja, uma reforma no Estatuto
Geral da UNIFESP, e acabar com o injusto sistema que
garante aos Docentes 70% do peso nas votações, relegando apenas 15%
a Técnicos e 15% aos Estudantes.
A
chapa vencedora também expressa abertamente seu desacordo com o
REUNI, o programa de expansão sem verba do Governo Federal, que é
responsável, em grande parte, pela lamentável situação atual da
Universidade, e contra as privatizações, incluindo aqui a Empresa
Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), se comprometendo com
um outro projeto de Universidade, a serviço da população
trabalhadora e não dos interesses de uns poucos.
Nós
da ANEL não temos nenhuma ilusão de que esse programa, para ser
levado a cabo, enfrentará enorme resistência dentro da estrutura
burocrática da Universidade. Não temos a menor confiança no
Conselho Universitário, ainda dominado pelo setor elitista que saiu
derrotado das eleições, e que se viu obrigado a acatar a decisão
das urnas por medo da força do Movimento Grevista.
Chamamos
todos os Estudantes a se manterem alerta, mobilizados para que
mudanças necessárias na UNIFESP saiam do papel. E elas só sairão
se seguirmos pressionando.
Nestas próximas semanas, o resultado das eleições será enviado à Presidência da República para sanção. Cabe a ela decidir os rumos da instituição. Por tanto, deixamos nossas exigências:
Nestas próximas semanas, o resultado das eleições será enviado à Presidência da República para sanção. Cabe a ela decidir os rumos da instituição. Por tanto, deixamos nossas exigências:
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Dilma, referende imediatamente a nova gestão, acatando a decisão do Movimento na UNIFESP !
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Por um Plano Nacional de Educação construído pela comunidade acadêmica e a sociedade civil !
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Que o novo PNE esteja livre das metas precarizantes do REUNI !
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Pelo fim das privatizações nas Universidades e pelo fim
criminalização aos movimentos sociais !
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Que 10% do PIB sejam destinados para Educação Pública Já !