4 de setembro de 2013

Fortalecer a Ocupação Esperança: é hora da solidariedade ativa

Vanessa Monteiro, diretora do DCE da USP




Antes mesmo de colocarmos os pés na Ocupação Esperança, nos deparamos com o recado na estrada: “Osasco precisa de mais moradia e menos heliporto”. Foi o prelúdio de um movimento que vem crescendo dia após dia no bairro de Santa Fé, em Osasco, próximo à rodovia Anhanguera. Ao longo da estrada, víamos famílias carregando malas sob o forte sol e em meio a nuvens de poeira. Homens e mulheres que estão fazendo a aposta de suas vidas: conquistar por suas próprias mãos o direito básico à moradia que lhes foi negado, direta ou indiretamente, pelos governos, seja municipal, estadual ou federal. 


Essa situação, expressão do enorme déficit habitacional da cidade e da precarização das condições de vida da população, fez o Movimento Luta Popular, em conjunto com centenas de famílias, protagonizou a Ocupação Esperança, desde a madrugada do dia 24 de agosto. Hoje, a ocupação já conta com mais de mil famílias, que resistem bravamente às ameaças do governo e da Polícia Militar.

No dia 31 de agosto, foi realizado um Ato em Solidariedade à Ocupação Esperança, seguido do “Samba pela Moradia”, atividades para dar visibilidade à ocupação e aproximar mais ativistas e 
organizações da luta. Estiveram presentes diversos movimentos sociais e entidades, como a ANEL, a CSPConlutas, o DCE Livre da USP, o Movimento Mulheres em Luta, entre outros. Às 14h, ocorreu uma assembleia para definir os próximos passos da mobilização, contando com a saudação de todas as 
entidades e movimentos presentes.  

Os moradores, a despeito de todas as dificuldades, estão otimistas quanto a possibilidade da regulamentação fundiária. Nas palavras de uma jovem moradora: “Ninguém disse que seria fácil, mas 
também não é impossível”. A ocupação enfrenta desde os primeiros dias, como era de se esperar, 
dificuldades que marcam um cenário de instabilidade. No dia 28 de agosto, a empresa K J Kady Jacqueline 
Limitadas, “proprietária” da terra, entrou com pedido de reintegração de posse em caráter emergencial. A 
juíza não concedeu a liminar de reintegração e convocou uma audiência para o dia 18 de setembro, às 18h,
para averiguação do caso e das causas da ocupação. Assim, foi conquistada uma primeira vitória. Com a 
audiência, os moradores e o movimento ganham mais tempo para se fortalecerem e somarem mais apoiadores à luta.

A Ocupação Esperança vem se consolidando a passos largos, dado o esforço e a abnegação de todos que lá estão. Num período de cerca de uma semana, vimos crescer diante de nossos olhos, onde antes havia apenas um terreno há anos abandonado, uma grande ocupação. Foram construídas cozinhas comunitárias, banheiros, um parquinho para as crianças e uma horta. A situação ainda é bastante precária: 
falta água, luz e mantimentos. Mas, para aqueles que têm de optar mensalmente pelo pagamento do aluguel ou pela alimentação de sua família, para os que sofrem com a precarização dos serviços públicos e com o descaso do Estado, ali está se construindo o embrião de muitos sonhos.

É fundamental a solidariedade ativa de todos os lutadores, entidades e movimentos sociais para o fortalecimento da ocupação diante a possibilidade iminente de uma desocupação policial. A juventude, devido ao respeito que ganhou na sociedade desde as mobilizações de junho, pode cumprir um papel 
valoroso ao fazer desta sua luta também. A ANEL é totalmente solidária à Ocupação Esperança. É 
importante que o conjunto do movimento estudantil se organize para ajudar da forma como puder: 
organizando caravanas, doações, divulgando notícias e assinando à moção de apoio. 


SE MORAR É UM PRIVILÉGIO, OCUPAR É UM DIREITO!