O Reuni na
Unifesp Guarulhos
Por Pedro Camargo da Executiva da ANEL SP e
estudante de Ciências
Sociais da UNIFESP
Primeiramente, alguém
há de se perguntar porque um projeto de expansão do ensino superior não foi
alvo de fortes críticas por parte da burguesia, uma vez que um dos mecanismos
de segregação social dentro de nossa cultura é justamente manter as massas longe
da educação.
O silêncio da burguesia
é compreensível. Da forma com que este projeto se dá, aumentando em duas vezes
o número de vagas, mas com apenas um aumento de vinte por cento de verbas, a
médio e a longo prazo acarretará o sucateamento total do ensino superior e sua consequente
privatização. Logo mais, nenhuma pesquisa de cunho não mercadológico
passará pelo crivo das universidades, submetidas à força do capital.
Nós, alunos da Escola
de Filosofia Letras e Ciências Humanas da UNIFESP vivemos na pele essa
realidade. Nosso pequeno Campus surgiu no bairro dos Pimentas, em Guarulhos, em
2007, fruto direto do REUNI. Aliás, a Universidade Federal de São Paulo é uma
das que aplica as metas do REUNI de forma mais ostensiva.
Diferente de outras
Universidades que já existiram e sofreram alguma precarização nos últimos anos,
nosso Campus nasceu já precarizado. Originalmente
Escola Paulista de Medicina, a instituição foi criada 1936, sendo federalizada
apenas na década de 1954. De 2004 para cá, o número de cursos e campi mais do
que dobrou. Em 2004 foi criado o Campus de Santos, em 2007 Guarulhos, Diadema e
São José dos Campus, e mais recentemente, em 2011 o campus Osasco. Agora a
UNIFESP conta com mais de 30 cursos e a tendência é continuar expandindo.
Recentemente veio à
baila a notícia da abertura de outros 3 Campi: Santo Amaro, Embu das Artes e
Pacaembu. Isto revoltou profundamente os alunos dos primeiros Campi, uma vez
que estes vem suas demandas sendo postergadas em favor de uma expansão
eleitoreira, que irá condenar mais jovens à mesma situação de descaso e
negligência.
No meu Campus estamos
em greve há mais de 50 dias, e as nossas reinvindicações não são novas: é a
quarta greve em pouco menos de seis anos. Desde que nossa Escola foi
inaugurada, não temos sequer um prédio. Somos obrigados a ocupar uma ETEC e um
CEU, que deviam servir à comunidade local, uma população de baixa renda que não
tem alternativas para educação, esporte ou cultura.
Apesar de ter tomado
esses espaços dos moradores dos Pimentas, o Governo e a Reitoria propagandeiam
que uma Universidade Federal num bairro proletário ajudaria a qualidade de vida
daquelas pessoas. Mas como isso se dá, na prática ? Sem moradia estudantil, por
exemplo, os alunos, que muitas vezes vem de outras cidades, se vem forçados a
alugar quartos e espaços na região. Nesse espaço de tempo, desde a inauguração
do Campus em 2007, a especulação imobiliária no entorno explodiu. As pessoas
que moravam há gerações na região estão sendo despejadas por não poder mais
arcar com o aluguel, com o custo de vida.
Sem um restaurante universitário que atenda a demanda do Campus (somos em 2600 alunos, no restaurante cabem 60), o preço da alimentação nos bares e comércios da região também aumenta. Sem um transporte de qualidade com preço popular, entupimos as poucas vias de acesso a uma região já debilitada.
Não queremos ser, mas também não podemos negar nossa condição enquanto agentes nesse processo de gentrificação que vai muito além dos muros da Universidade. É um projeto nacional usar a Educação como pretexto para supervalorizar terrenos e jogar os pobres para cada vez mais longe. Basta considerar que o REUNI foi inspirado na declaração de Bolonha, uma política amplamente incentivada pelo Banco Mundial. São muitos os interessados nesta equação.
Enquanto isso, o novo prédio de Santos teve o teto caído por conta de uma forte chuva, pouco mais de um mês desde sua inauguração. O prédio novo de Diadema, pronto há dois anos, será inaugurado nesta sexta feira. E a licitação do nosso prédio sequer saiu do papel. Há uma previsão de que talvez, talvez, ele esteja concluído e pronto para uso na segunda metade de 2015. Mas, evidentemente, não há qualquer compromisso escrito nesse sentido.
Sem um restaurante universitário que atenda a demanda do Campus (somos em 2600 alunos, no restaurante cabem 60), o preço da alimentação nos bares e comércios da região também aumenta. Sem um transporte de qualidade com preço popular, entupimos as poucas vias de acesso a uma região já debilitada.
Não queremos ser, mas também não podemos negar nossa condição enquanto agentes nesse processo de gentrificação que vai muito além dos muros da Universidade. É um projeto nacional usar a Educação como pretexto para supervalorizar terrenos e jogar os pobres para cada vez mais longe. Basta considerar que o REUNI foi inspirado na declaração de Bolonha, uma política amplamente incentivada pelo Banco Mundial. São muitos os interessados nesta equação.
Enquanto isso, o novo prédio de Santos teve o teto caído por conta de uma forte chuva, pouco mais de um mês desde sua inauguração. O prédio novo de Diadema, pronto há dois anos, será inaugurado nesta sexta feira. E a licitação do nosso prédio sequer saiu do papel. Há uma previsão de que talvez, talvez, ele esteja concluído e pronto para uso na segunda metade de 2015. Mas, evidentemente, não há qualquer compromisso escrito nesse sentido.
MAS, AFINAL, PELO QUE LUTAM OS ESTUDANTES DA UNIFESP GUARULHOS ?
Lutamos por um prédio
com as condições mínimas para estudar: salas de aula, biblioteca, espaços de
convivência, quadra de esportes, laboratórios de pesquisa, etc.
Lutamos por um
restaurante universitário que atenda a demanda, ônibus municipal que ligue
Guarulhos a São Paulo com um preço popular e atenda toda a população, um
restaurante popular no bairro, uma creche para alunos, funcionários e docentes,
mas que também possa atender aos moradores do bairro.
Lutamos pela anistia aos processos políticos que se arrastam desde 2008, quando 48 alunos foram presos pela polícia federal por ocupar a Reitoria por 10 minutos.
Pelo fim da burocracia acadêmica e por um governo universitário em que os estudantes possam ter voz e participação nas decisões sobre os Campi.
Lutamos pela queda dos muros e dos portões, pela abertura real da Universidade ao seu entorno, afinal de contas são os trabalhadores que custeiam a educação com seus impostos, e dela tem direito a usufruir!
Lutamos pela anistia aos processos políticos que se arrastam desde 2008, quando 48 alunos foram presos pela polícia federal por ocupar a Reitoria por 10 minutos.
Pelo fim da burocracia acadêmica e por um governo universitário em que os estudantes possam ter voz e participação nas decisões sobre os Campi.
Lutamos pela queda dos muros e dos portões, pela abertura real da Universidade ao seu entorno, afinal de contas são os trabalhadores que custeiam a educação com seus impostos, e dela tem direito a usufruir!